Foto: Ana Paula Baticini
Um discreto portão, às margens da Avenida Contorno Sul, sinaliza a presença da Estação de Tratamento de Água Arapongas, a primeira de Itajaí. A pequena estrada, calçada com blocos de pedras, que leva ao topo do morro, onde ela está localizada, já mostra que a construção é antiga. Arapongas, assim como a estação São Roque, tem uma vista privilegiada. O pôr do sol, visto lá de cima, é encantador, mas definitivamente essa não é a característica que mais fascina ao visitá-la.
Arapongas é história pura. Um patrimônio histórico para a cidade, ainda que não seja reconhecido oficialmente. Inaugurada em 1954, a estação mudou pouco e manteve a originalidade da construção, mesmo passando por uma reforma em 1973.
Para quem já visitou uma estação de tratamento e está acostumado com materiais mais modernos, os decantadores em madeira da Arapongas intrigam e encantam. Mesmo sendo tão rudimentares, eles desempenham seu papel com eficiência.
No topo do morro, o espaço é pequeno, cabe só ela e mais nada. Até o armazém para os produtos químicos, necessários para o tratamento, tem espaço reduzido. Essa condição demanda um cuidado extra dos operadores da Telemetria. É preciso ficar de olho na previsão do tempo para agendar a entrega dos produtos. Em dia de chuva, o caminhão não chega lá em cima.
Uma senhora de respeito
A história de Arapongas, a primeira estação de tratamento de Itajaí
Fotos: Ana Paula Baticini
No antigo local de caça da elite Itajaiense, o som das arapongas deu lugar ao barulho das águas. Uma obra encomendada pelo governo do estado, executada pela Cobrazil e projetada por Saturnino de Brito Filho, herdeiro do primeiro engenheiro sanitarista brasileiro.
A Estação de Tratamento de Água Arapongas começou a ser construída em 1953 e foi inaugurada em 07 de setembro de 1954, com festa e recepção dos convidados no salão da Sociedade Guarani. A construção foi viabilizada por um empréstimo de 12 milhões de cruzeiros, a ser pago até o ano de 1974.
Para o engenheiro Sérgio Juk, ela é fruto de um primoroso trabalho de engenharia e tem inegável valor histórico para o município.
E não é só pelo valor histórico que ela foi marcante. Com a Arapongas, várias novidades foram inseridas no sistema de abastecimento de água de Itajaí.
Por ser a primeira estação de tratamento da cidade, a partir dela, com condições para tratar a água, foi possível ampliar as opções de captação. O rio Conceição tornou-se o manancial do município, uma novidade e um alívio para Itajaí. A captação em fontes protegidas, como as cachoeiras, restringia muito o volume de água disponível para o abastecimento da população.
Capa de jornal sobre a inauguração do novo sistema de abastecimento
Arquivo CDMHI
Tanques de decantação.
Colocação dos tubos
Torre que abriga o laboratório e tanques.
Tanques de decantação.
Fotos da construção e inauguração da estação Arapongas. Clique para ampliar.
Arquivo CDMHI
Por meio de uma adutora, que traz a água bruta da captação no bairro São Roque, desde 2007, a água beneficiada na estação também vem do canal retificado do Itajaí Mirim. Subir o morro com a tubulação de ferro, puxada por um cabo de aço, foi um dos serviços mais desafiadores que Israel Braz de Oliveira fez ao longo dos 20 anos em que trabalha no abastecimento de água em Itajaí.
O sistema de abastecimento da Arapongas era composto pela estação de tratamento, por uma caixa d’água ou reservatório elevado, instalado na rua João Bauer, e uma nova tubulação. Arapongas foi a principal responsável pelo abastecimento da cidade até a inauguração da estação São Roque, em 1979.
Foi também por causa da sua construção que o governo do estado assumiu a gestão da água, até então gerida pelo município. "O governador Irineu Borhausen, que era itajaiense, aceitou realizar a obra. Mas, como não podia realizar uma obra para o município, a água precisou passar para o estado", conta o professor Edison D'Ávila.
"Uma das caixas mais bonitas do Brasil"
Edison D´Ávila
Sufocada entre os prédios, a caixa d’água do centro, como ela é conhecida entre os moradores de Itajaí, resiste ao avanço provocado pela especulação imobiliária, que tanto mudou a paisagem da cidade. Quando construída, ela se destacava no horizonte. Pairando sobre suas altas colunas, testemunhou Itajaí se tornando uma das principais economias do estado.
Hoje, pequena em meio às construções, lembra pouco do que foi no passado. Parece mais baixa. Escondida pelos prédios. Contudo, na memória dos antigos moradores, ela continua imensa.
"Me lembro quando criança que passava por ali e admirava aquela construção que resplandecia à luz do sol". É assim que o professor Edison D’Ávila lembra da estrutura. Povoando o território de sua infância, espectadora dos seus passeios. Para ele, a caixa é um importante patrimônio histórico para o município, pois é uma construção típica da arquitetura moderna e umas das mais bonitas do Brasil. Sem contar a importância dela para o desenvolvimento social da cidade.
O brilho, que marca a memória do professor, é típico do revestimento usado nos prédios públicos na época. Os pequenos cristais refletem a luz do sol e remetem ao grande desenvolvimento econômico e social, movido pelo auge das exportações de madeira, vivido por Itajaí em sua década de ouro.
Inauguração do reservatório (Foto: CDMHI)
Reservatório em 2022 antes da reforma (Foto: Ana Paula Baticini)
Reservatório após a reforma (Foto: Ana Paula Baticini)
Inauguração do reservatório (Foto: CDMHI)
Atualmente, a caixa já não exerce sua função original, mas em sua base estão instaladas bombas responsáveis por pressurizar a rede que abastece o centro da cidade. Por causa do valor histórico e pela complexidade em demolir a estrutura, em 2022, o Semasa realizou uma reforma no reservatório.
A reforma teve como objetivo preservar a estrutura e mantê-la o mais próximo possível de sua característica original. Por isso o revestimento escolhido tem pequenos cristais que resplandecem à luz solar.
A evolução do reservatório ao longo do tempo.
A caixa d´água por professor Edison D´Ávila
Imagem: Daniel Santos