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  Foto: Ana Paula Baticini  

Sem aviso prévio

Os problemas enfrentados pelo sistema de abastecimento

A falta de água, como a enfrentada pela nossa personagem, não é uma situação atípica. Os sistemas de abastecimento são sensíveis e podem apresentar problemas sem aviso prévio, sem hora marcada e sem respeitar a agenda de ninguém. Problemas dos mais simples aos mais complexos podem acontecer de madrugada, no feriado, na sexta-feira faltando poucos minutos para a largada do fim de semana. 

 

Rompimento de tubulação, manutenções emergenciais, problemas na estação de tratamento. Tudo isso pode afetar, repentinamente, o abastecimento de uma casa, de um bairro ou de uma cidade inteira. 

Quem trabalha com água sabe e sente na pele essa realidade.

No áudio abaixo, Carmem Caponera e Sérgio Juk, que trabalharam em Itajaí, relatam as dificuldades em resolver problemas na rede. 

As tubulações e seus desafios
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Uma das causas mais comuns para a falta de água são as manutenções, emergenciais ou programadas, na tubulação. Em Itajaí, são 720 quilômetros de tubos, que percorrem o município levando água até 99% da população.  São canos que variam de 20mm até um metro de diâmetro. Uma extensa teia que, como as artérias e veias, alimentam esse grande organismo que é a cidade. 

Tubulações, em geral, são ignoradas e desconhecidas pela maioria das pessoas. Quando elas rompem, rompe também  a cadência da rotina de quem está na superfície. 

 

Na maioria das vezes, os problemas nas tubulações são resolvidos de forma rápida, sem gerar muito impacto para o abastecimento, principalmente para quem tem caixa d'água. Mas outras vezes, eles podem se tornar um problemão. 

Israel Braz de Oliveira é encanador a serviço do Semasa. Ele é um daqueles que, literalmente, sempre está dentro dos buracos correndo atrás para consertar, o mais rápido possível, os vazamentos. Por causa da experiência de 20 anos de trabalho com as redes, seu Israel geralmente faz parte da equipe chamada para resolver os maiores problemas. 

Todas as vezes que encontrei com o encanador, ele estava envolvido na solução de um desses problemões. Guardei dele a imagem de uma pessoa incansável. Em campo, poucas vezes o vi parado, mas, mesmo ocupado com os consertos, o olhar curioso, encarando a câmera, me chamou a atenção.

Seu Israel em campo. 

Trabalho que exige força e sensibilidade para ler aquilo que não está escrito e que muitas vezes só a experiência ensina. 

Fotos: Ana Paula Baticini

A nossa primeira conversa foi adiada por um desses acontecimentos que, sem aviso prévio, mudam os planos de muita gente. A força da água do canal retificado desbarrancou o terreno e carregou a tubulação que leva água bruta da captação no São Roque para a Estação de Tratamento Arapongas. Foram 16 horas de trabalho ininterrupto para finalizar o conserto. 

Dias depois, nos encontramos no galpão da empresa terceirizada que presta o serviço operacional para o Semasa. Nossa conversa foi rápida. Tímido, o paranaense, radicado em Santa Catarina há quase 40 anos, está mais habituado com o dia-a-dia das obras do que com uma entrevista. Nas poucas palavras que trocamos, percebi que, para seu Israel, o trabalho não assusta. Mesmo os grandes consertos, que impactam quem não está habituado com o estrago causado por um rompimento de rede, para ele, são atividades normais de quem já se acostumou com a rotina de imprevistos e trabalho duro. 

“A Schmithausen sempre arrepia”, é assim que outro encanador do Semasa, Paulo Roberto Amorim, descreve o sentimento de trabalhar no conserto de rede em uma das principais vias da cidade. Não somente por todo o impacto que ele gera no trânsito, mas também porque passa  na região uma adutora de 500mm, responsável pelo abastecimento de boa parte da cidade.  Problema ali é difícil de resolver e impacta o abastecimento de muita gente. 

Tanto Israel quanto Paulo aprenderam muito do que sabem com outro profundo conhecedor das redes da cidade: Giuseppe Caponera. Italiano, nascido em Roma, ele aportou no Brasil aos 23 anos de idade. Trabalhando com torres de transmissão de energia, o romano chegou a Itajaí e por amor estabeleceu morada.

Seu Caponera casou-se com uma professora viúva, moradora do Quilômetro 12, localidade que pertence ao bairro Itaipava, em Itajaí. O romance começou depois dele ter sujado a água que a família usava, causando a irritação dela, que foi tirar satisfação com o responsável pelo estrago.

Quase tudo o que eu aprendi foi com o seu Caponera, ele conhecia tudo das redes. 
Paulo Roberto Amorim, encanador

Uma pequena história de amor 

A história de Giuseppe Caponera contada por sua filha Carmen Caponera

Imagens: Leonardo Edgar

De forma concreta, a história de Caponera com a água começa em 1985, quando ele iniciou seu trabalho com ligações de rede para a Casan. O trabalho lhe rendeu um profundo conhecimento deste verdadeiro sistema circulatório, enterrado sob o passo apressado e desavisado de muita gente. Por isso, em 2003, foi convidado para assumir os serviços de ligações e consertos de rede no Semasa, prestando serviço terceirizado. A filha do italiano, Carmen Caponera, acompanhou o pai nessa empreitada. 

 

Com uma Kombi e alguns funcionários, eles eram responsáveis pelas manutenções e ampliações de rede na cidade. Para ela, foi um período difícil, como todo começo, mas de muito aprendizado e desenvolvimento. “Meu pai era apaixonado pelo trabalho e gostava de fazer bem feito tudo o que fazia. Ele não queria que ninguém passasse vergonha por causa dele”, descreve a filha orgulhosa. 

O contrato da empresa de Caponera terminou em dezembro de 2010. Giuseppe faleceu em janeiro de 2011, prestes a completar 80 anos. 

Carmen Caponera e a  história do 0800 

Foto: Arquivo pessoal Carmen Caponera

Caponera (de bengala) - uma vida dedicada às tubulações

Foto: Arquivo Semasa

Salinidade

A salinidade

Chuveiros trocados. Resistências ressarcidas. Vinte e quatro dias com água fora do padrão de potabilidade. Choque elétrico. Quarenta e cincos pontos de distribuição de água. Uma cidade abastecida por caminhões pipa. 

Em 2020, Itajaí viveu uma das piores crises hídricas de sua história. O rompimento da Barragem de Contenção da Cunha Salina, no dia 13 de outubro, deixou que a água do mar alcançasse as bombas de captação de água bruta. O resultado caótico mostrou o que a salinidade pode provocar. 

Esse problema não é novo, nem exclusivo de Itajaí. Cidades litorâneas sofrem com a invasão da água do mar no leito dos rios, é um processo natural mas que causa grandes prejuízos quando chega aos pontos de captação. Esse problema se intensifica nos momentos de maré alta, em que o mar tem mais força para entrar no curso de água doce. Também nas secas, em que a água doce tem pouca força para expulsar a água salgada. 

Para retirar o sal da água é preciso um processo muito mais complexo do que o adotado, tradicionalmente, nas estações de tratamento. É um processo caro. Por isso, mesmo passando pela estação, a água ainda permanece salgada e não potável.

 

Valério César, o primeiro operador da ETA São Roque, recorda que, quando começaram a captar a água no canal retificado do Itajaí-Mirim, era possível se livrar da água salgada, abrindo e fechando os registros na captação. Porém, com o tempo, foi ficando cada vez mais difícil. 

O engenheiro Sérgio Juk trabalhou em Itajaí de 1980 a 2003 e de 2006 a 2017 e foi um dos responsáveis por ajudar a cidade a encontrar um jeito de solucionar o problema.

Uma solução criativa

Sérgio Juk, um dos idealizadores da barragem, narra como surgiu a ideia para fazer a estrutura 

Imagens: Leonardo Edgar

A barragem foi construída antes do ponto de captação, no canal retificado rio Itajaí-Mirim. A inauguração, em 08 de setembro de 2007, marcou um novo tempo para o sistema de abastecimento de Itajaí.  

A barragem e suas fases de construção.                                                                                  Fotos: Arquivo Semasa

Uma vida dedicada ao trabalho no saneamento 

 

O que é a água ou o que ela representa para você? 

Talvez você também tenha pensado em uma das respostas mais clichês para essa pergunta: água é vida. É o que a maioria das pessoas pensam ou respondem. Mas poucas pessoas podem dar a seguinte resposta: ela é a minha vida. O pronome possessivo faz muita diferença, ou melhor, faz toda a diferença no que ela significa.

Foi com essa resposta, seguida de um momento de silêncio e olhos marejados, que o engenheiro Sérgio Juk encerrou nossa conversa. Testemunhar a lágrima contida e a falta de palavras para expressar tudo o que trabalhar no saneamento significa foi, sem dúvidas, inspirador.

A história da água de Itajaí é cheia de gente com olho de farol, desses que de tanto brilhar apontam caminhos para muitos outros. Em meio ao caos dos dias vividos, ainda encontramos pessoas que trabalham com paixão. Sérgio tem um desses olhares. 

Ao ser questionado sobre como começou o trabalho no saneamento, o semblante dele mudou. A leveza na expressão deixa nítido o orgulho que o engenheiro tem de sua trajetória. A memória foi transportada para 1972, quando começou a trabalhar na Casan. Recém formado, a missão era visitar cidades em que a companhia atuava para fazer um levantamento sobre as condições de cada município. Sérgio visitou 50 cidades e conheceu de perto a realidade do saneamento em Santa Catarina.

 

Depois, fez uma pós graduação e em 1980 chegou em Itajaí. Aqui, nos dois períodos em que trabalhou, Sérgio participou de obras importantes. É o caso da Barragem de Contenção da Cunha Salina, da ampliação da ETA São Roque e da adutora de água bruta do São Roque para Arapongas. Desafios implantados com a mesma coragem e comprometimento de tantos outros que participaram da história do Semasa.

Comecei em 1972 e nunca larguei. Meu maior prazer é trabalhar com essa atividade. 
Sérgio Juk, engenheiro 
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 Próximo capítulo 

Semasa 20
anos

 

Trabalho de Conclusão de Curso produzido pela acadêmica Ana Paula Baticini, orientado pela Dra. Vera Lucia Sommer e lançado pelo Semasa nas comemorações dos 20 anos de fundação da autarquia. 
Abril/2023

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