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  Vice prefeito, Marcos Gustavo Heusi ,visita o reservatório. 1928.Foto; CDMHI  

Do sangue derramado nas batalhas da Revolução Federalista, veio o primeiro sistema de abastecimento de água de Itajaí. Com o dinheiro enviado pelo estado, como ressarcimento aos prejuízos deixados pela Revolução, o prefeito, o médico Dr. Pedro Ferreira, construiu uma espécie de dique para a captação da água em uma cachoeira, no bairro Fazenda, que depois era distribuída nas principais vias da cidade. 

​O sistema atendia cerca de três mil moradores e foi inaugurado em 15 de junho de 1897, nos 37 anos de fundação do município. Segundo o professor Edison D´Ávila, duas torneiras públicas atendiam aqueles que não podiam pagar a taxa de água ou que não conseguiam ligar suas casas à rede. Os outros moradores abasteciam-se com os poços.

O pequeno curso d'água, que brota em algum ponto protegido pela mata, foi responsável pelo abastecimento público da cidade até 1928, ano da inauguração do segundo sistema. Mesmo com a inauguração de outros sistemas, como o da Ressacada e a Estação de Tratamento Arapongas, ele ainda foi mantido em funcionamento, para auxiliar o abastecimento da cidade. 

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Prefeito Marcos Konder (de branco, em cima do reservatório) no sistema de captação da Fazenda, 1928.

Foto: CDMHI

 

Em 1957, quando José da Rosa começou a trabalhar para o Serviço de Água de Itajaí, a realidade já era bem diferente. A cidade já tinha mais dois sistemas de abastecimento, um deles com uma estação de tratamento de água, e o estado administrava o serviço.

Contratado para a função de servente, ele cuidava do recém inaugurado reservatório de Cabeçudas e da caixa da Fazenda, pois o antigo sistema ajudava a abastecer a faixa litorânea, já que a água tratada na Arapongas não era suficiente para chegar naquela região. “Eu subia lá de dois em dois dias, colocava cloro, tirava as folhas”, lembra. A rotina era quebrada pelos temporais, pois a chuva deixava sujeira e trabalho extra. 

Rebatizado pela profissão, José passou a ser conhecido como Zé da Caixa. Ele conta com orgulho o fato de ter trabalhado 30 anos com a mesma bomba, sem nunca deixar queimar. Do antigo reservatório, ele recorda quando trocou os tubos feitos com aço e piche, herança da época da construção, e de quando recebeu ordens para desativar a caixa, no início da década de 1980, pois a Estação de Tratamento São Roque havia sido inaugurada e dava conta de abastecer a cidade. 

O começo dessa história 

Os primeiros sistemas de abastecimento de água de Itajaí

Seu Zé trabalhou até 1984. Nas imagens, a carteira de trabalho feita para que ele pudesse ser registrado, como servente, no Serviço de Água e Esgoto.

O trabalho na água foi o único registro na carteira dele. 

Imagens: Seu José - Natália Simões Pires da Costa
Carteira de trabalho - Arquivo pessoal José da Rosa

 

Mesmo desativado, ainda hoje, nesse mesmo local, é possível encontrar o ponto de captação e o dique. Apesar dos mais de 100 anos que nos separam da data de sua inauguração, o reservatório resiste ao tempo e, apesar das modificações, marca o início dessa história.

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Foto: Natália Simões Pires da Costa

Antes e depois 

A foto mais antiga, tirada em 1928, registra uma visita do  prefeito Marcos Konder (de branco na beira do reservatório), do vice-prefeito Marcos Gustavo Heusi (de cinza, na escada) e do promotor público Álvaro Batista.

 

Na foto atual, o reservatório em 2022. 

Olhar para o antigo ponto de captação nos recorda que a água não nasce na torneira, pronta e à livre demanda. Ela não é fabricada em um parque industrial moderno, operado por robôs. Ela nasce das entranhas da terra e mesmo um rio caudaloso já foi um pequeno riacho. É deles que dependemos. São eles que precisamos preservar. 

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016_03739_001 Reservatório da Ressacada Construída abastecer a rede d_água de Itajaí 1930.

Foto: CDMHI

O reservatório da Ressacada

O segundo sistema de abastecimento de Itajaí

Em 1915, quando assumiu a prefeitura, Marcos Konder encomendou o projeto de um novo sistema de abastecimento, realizado pelo escritório Mannesmann a partir dos estudos do engenheiro Telasco Vereza. A proposta era captar água do manancial da Canhanduba, o mais volumoso dos mananciais disponíveis, porém o mais distante. 

 

O que não estava nos planos deles era a Primeira Guerra Mundial, que atrapalhou a execução do projeto. Por causa da escassez de aço no mercado europeu, usado na produção de armas, os custos da tubulação aumentaram muito. Sem dinheiro para executar a rede idealizada, a decisão de explorar o manancial da Canhanduba foi descartada.

Eles decidiram, então, por explorar o manancial da Ressacada, menor em volume de água, porém mais próximo à concentração urbana. O sistema era composto por uma caixa d´água e tubulações de distribuição.

 

A caixa d'água, feita de duas camadas de tijolos e cimento e camada interna de concreto com armações de ferro, consumiu 35.750 tijolos, 202 barricas e 45 sacos de cimento e 50 m³ de argamassa para sua construção. A tubulação, 7.314 metros de canos novos, parte deles feitos em aço galvanizado e outra parte em tubos de aço asfaltados por dentro e cobertos de juta e asfalto por fora, foi colocada em ruas como a Hercílio Luz, Samuel Heusi, Brusque, Carlos Seara e Alberto Werner. 

O sistema da Ressacada custou um pouco mais de 130 contos de réis, pagos em apólices com juros de 8% ao mês e pela verba de "Obras Públicas" . Ele foi inaugurado em 12 de outubro de 1928 e até a construção da Estação de Tratamento de Arapongas os sistemas da Ressacada e da Fazenda foram responsáveis por abastecer a população de Itajaí. 

Todas as informações sobre esse sistema estão descritas no discurso de inauguração, escrito pelo prefeito Marcos Konder. O discurso encanta pelos detalhes e pela atualidade dos temas: desde a preocupação com o gasto desnecessário da água, os materiais e o custo para a construção. Palavras do passado que nos ajudam a entender o presente. 

Palavras que também emocionam: o respeito pela água expresso em um discurso. As dificuldades de construir e manter um sistema de abastecimento tão bem registradas que valem a leitura. Não perca essa oportunidade.  

Com o material gasto na construção do reservatório da Ressacada, seria possível construir  sete casas de três quartos.

Apólice Serviço de Água. Clique para ampliar. Foto; CDMHI  

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 Próximo capítulo 

Uma Senhora de respeito

Trabalho de Conclusão de Curso produzido pela acadêmica Ana Paula Baticini, orientado pela Dra. Vera Lucia Sommer e lançado pelo Semasa nas comemorações dos 20 anos de fundação da autarquia. 
Abril/2023

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